| 
                   Foto: www.tripadvisor.com.br 
                     
                    JAPÃO  - CULTURA MILENAR 
                  04-05-1990 
                   
                    Tóquio  é uma cidade plana, extensa, densamente povoada.  
                      Foi terrivelmente castigada durante a 2ª. Guerra Mundial, parcialmente  arrasada. Em seguida, pacientemente reconstruída com prédio baixos, escorados  uns aos outros, de má qualidade, antes do   “boom” econômico que transformou o país de terra falida em potência  mundial. 
                      Gente gentil, moderna e tradicionalista — um equilíbrio perfeito entre a  cultura milenar do Oriente e o pragmatismo do Ocidente. 
                      Terra de yuppies, espécie de cartagineses dos tempos atuais, com seus ternos  discretos e pastas executivas.  
                      Estive apenas cinco dias, em 1983, confinado quase todo o tempo no centro de  convenções em que acontecia o seminário da UNESCO. Mas houve tempo para andar  pelos jardins do Palácio do Hiroito, o velho Imperador. Para ir a templos e  teatros, a museus e a compras na avenida Ginza, no centro turístico da velha  cidade. Ao longe avistavam-se os primeiros grandes espigões de vidro fumê,  sinais da prosperidade.  
   
                      O metrô estava sempre repleto, entupido. Nos trechos ao ar livre dava para  enxergar aquela enormidade de casas de madeira, de sobradinhos toscos, de  casarios apinhados. Terreno deve ser o bem mais cobiçado da população. Cabe a  cada habitante um espaço mínimo.   
                      Na TV os programas de auditório. Os restaurantes com réplicas perfeitas dos  pratos em oferta, feitos de fibras de acrílico, facilitam a escolha dos  turistas.  
                      Poucos estrangeiros vivem por lá. O país deve ter leis muito rigorosas de  ingresso. Uma raça disciplinada, ordeira, aparentemente hospitaleira,  sorridente mas reservada. Certamente muito herméticos em seus costumes, com um  mínimo de miscigenação com outras raças.  
                      Os idosos muito considerados, reverenciados. Os jovens engenheiros tratavam  nosso anfitrião — Dr. Fujiwara, um dos vice-presidentes da Federação  Internacional de Documentação com uma atenção extremamente polida, quase  servil. Falavam suavemente, postavam-se como que em prontidão e ouviam com  atenção esmerada. 
   
                      O ponto máximo do encontro foi uma recepção em uma tradicional casa de chá.  Ficava em algum subúrbio distante, ao qual chegamos de trem. Entrava-se por um  luxuoso e imenso centro de lazer, como executivos, toda uma infra-estrutura  sofisticada e moderna, culminando em uma ampla área em forma de terraço, ou  miradouro, descortinando-se, abaixo, um parque com suas antigas árvores e a  terra da “pagoda” medieval. O velho templo budista ficou bem abaixo, em meio à  suave vegetação do jardim (do século XI), ornado com flores. Em seguida — se  não falha a memória — havia um pequeno lago, com cisnes, e duas toscas e  centenárias casas de chá.  
                      A comida era apresentada em minúsculas peças de cerâmica fina ou de madeira,  acompanhada de saquê, pelas gueixas, ao som de instrumentos musicais  tradicionais.  
                      O ritual era lento, sem pressa. Cada comida, cada especiaria era uma miniatura  de arte, em cor, em arranjo, em beleza, em fragrância. De esquisitice única,  sofisticada, requintada. 
   
                      Não houve tempo para realizar os célebres passeios a Nara e Kyoto, ou para  andar no “trem bala”. Contentamo-nos com a ida ao templo de Asakusa, também  conhecido como Senso-Ji, é o templo budista mais antigo de Tóquio, dedicado a  Kannon, a bodhisattva da compaixão, e possui um significado religioso  importante para os japoneses. A entrada do templo é marcada pelo famoso  portão Kaminarimon, com sua lanterna vermelha gigante e esculturas de deuses do  trovão e do vento. O templo está no parque onde fica o castelo do  imperador, dos célebres espetáculos de Teatro Kabuki, e outras tipicidades para  os turistas. Tudo limpo, bem organizado, no horário programado e a preços  elevados. 
   
                      Dizem que o melhor do Japão está no interior, onde o típico é real e não em  aparência de museu. 
                      De volta para o distante aeroporto de Narita nem dá para ver muito porque a  autopista é emparedada, feita  com a  máxima segurança e celeridade. 
                      Aquela imagem de cartão-postal com gueixas e cerejeiras em flor só mesmo nas  papelarias, na fantasia do turista.    
                  O que se vê da autopista são as fábricas e as construções em série, típicas de  todos os subúrbios do mundo. 
                
  |